A cada dia mais eu me apaixono pelo óbvio... Nenhum grande artista, filósofo ou monge conseguiria alcançar alguma espécie de conhecimento sem antes notar a luz que existe na claridade. Sim, ela está ali, todos sabem e por isso não enxergam mais. 

 

Uma das maiores loucuras e alucinações é falar do óbvio, talvez por este motivo eu gostei tanto do livro Água Viva de Clarice Lispector. É pura alucinação, extremo devaneio, é nó, embaraço. Você chega a estremecer, pensa, repensa e alcança a seguinte conclusão: não adianta pensar, jamais chegaremos a uma única resposta, jamais teremos a certeza de nada, nem a absoluta ou a incerta. 

 

Existe algo de que sabemos perfeitamente: nós respiramos, existem objetos e a natureza. Um Deus, talvez... é muita pressão viver. É muito difícil viver, e sabe o que é mais complicado? Comer a própria placenta e ser responsável pelo ar que respira. Viver com autonomia, amigo, não é fácil. 

 

É dito de maneira tão óbvia de que cada um é de um jeito. Ame-se, aceite-se, adore-se. Mas não faz sentido amar-se nem aceitar-se, sem antes saber o motivo pelo qual estamos aqui ou ao menos tentar desvendar todo este mistério que é a vida. Precisamos amar a vida. Antes de amar a si mesmo, é necessário amar viver. 

 

Olhe no espelho o mundo refletido em sua natureza, está é a mais perfeita imagem humana, a ignorada. Existem pessoas que se confortam em errar e saber que ninguém é perfeito, sim é fato. Mas nesta vida existe sim uma perfeição: o amor. Não é o amor de si mesmo. Ninguém ama o próximo ou a si mesmo sem antes amar viver, respirar. Esta é a plenitude do amor. 

 

Ninguém precisa se amar, precisamos é descobrir o amor e a essência humana. Essência sombria, misteriosa e óbvia. E não ame-se do jeito que você é, isso é ilusão, foi algo imposto por alguém. Existe algo de que devemos ter consciência: aceitar-se. Sim, somos seres imperfeitos e jamais chegaremos a perfeição e está aí uma das melhores divindades de viver: a imperfeição, a possibilidade de tornar-se a cada dia uma pessoa melhor. 

 

Amor próprio não é amar a imagem que vê no espelho, ninguém é obrigado a cometer o autoengano. Cada um tem a sua beleza e aparência, apenas esteja ciente de uma coisa importante: isso é efêmero, será destruído, mutilado e esquecido. Cuide da alma, dos sentimentos mais íntimos, do que pensa em silêncio. Ame a sua essência, este é o seu eu.

 

Se a imperfeição humana te conforta eu irei te incomodar: isso não é um motivo para você não evoluir como ser humano. Somos seres mutantes e nesta vida nada tem sentido se não for a evolução, a troca, o conhecimento, a amizade e a transformação. Enxergue o óbvio, coloque luz na claridade!

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