O diagnóstico do câncer traz mudanças bruscas na vida do paciente. A rotina passa a ser outra, assim como o convívio familiar também torna-se diferente. Afinal, por mais presente em nosso cotidiano o surgir da doença num conhecido ou familiar, abala e raramente há preparo para uma notícia que chega inesperadamente. O risco de morte e as consequências do tratamento da doença carregam estigmas e afeta fortemente as condições emocionais não só do paciente, mas também dos familiares e amigos.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2010) aponta que tanto o paciente com diagnóstico de câncer, como os entes também sofrem por insegurança e medo quando se deparam com a notícia. O conhecimento, os valores e o comportamento das pessoas próximas interferem diretamente no modo de encarar a doença e de como esse paciente será cuidado pelos familiares.
A psicóloga Elisa Campos, especialista em Psico-Oncologia afirma que é comum a insegurança surgir quando existe a possibilidade da perda de um ente querido:
“Dependendo do lugar que o paciente ocupa na família as consequências podem ser ainda piores. Por exemplo, uma mãe de família com filhos pequenos, ou um pai de família, provedor da mesma. Um vovozinho traz tristeza, mas é entendido como um processo mais natural”, explica.
Cientistas da Universidade de British Columbia divulgam em estudo que o número de mortes decorrente do câncer é 25% maior entre os pacientes que apresentavam sintomas da depressão. Embora há indicações desse sinal, pesquisadores alertam que nem por isso o paciente é obrigado a mostrar-se positivo diante de uma doença que preocupa mundialmente. O estudo visa ressaltar a importância do acompanhamento psicológico durante o tratamento do câncer.
“A família já está desestruturada com a notícia, fica perdida e sem poder falar tudo o que desejaria para o familiar, que é o motivo das preocupações. O profissional psicólogo passa a ser um depositário das angustias, incertezas, e ainda de uma fonte de esclarecimentos sobre doença, tratamentos e outras dúvidas”, alerta.
Pesquisa realizada nos Estados Unidos e publicada no Proceedings of the National Academy of Science observou que os ratos isolados e sem contato social desenvolveram mais tumores relacionados ao câncer. Os estudiosos associaram as consequências com o estresse que também pode ocorrer em seres humanos.
“O enfrentamento é muito importante, pois pesquisas demonstram que se o paciente quer viver, enfrenta a doença e os tratamentos com esperança ( mesmo que não haja motivos para tê-la). Pode haver um retardamento da morte, e certamente a vida restante tem outra qualidade”, explica a psicóloga.
A especialista em psico-oncologia comenta sobre os estigmas mais presentes entre os pacientes, como o receio da morte, dor e mutilação. Embora alguns tratamentos apresentam a dor física há informações desconhecidas sobre a mortalidade. “Atualmente apenas 30% dos tumores são mortais. Mesmo os mais graves, podem ter evolução muito positiva se for detectado a tempo, precocemente. É fundamental fazer todos os exames preventivos que estiverem disponíveis”, orienta.
A psicóloga integra o grupo de profissionais do Instituto de Psicologia da USP (IPUSP) CHRONOS-USP. Oferece atendimento gratuito aos pacientes com câncer e familiares. Para saber mais acesse o site: http://www.ip.usp.br/laboratorios/chronos/index.html.