Fobia Social: Quando a timidez se torna uma doença

5/5/2016     Vanessa Ferreira    

 
 

O que começa apenas como um traço de personalidade acaba se tronando uma patologia

 

Qualquer pessoa já passou por um momento de timidez, seja em maior ou menor grau, principalmente ao se deparar com um ambiente novo ou uma situação que exija exposição, como falar em público. No entanto, há quem evite esse tipo de situação e que se sinta extremamente desconfortável, a ponto de ficar apavorado. Ir a uma festa, conhecer novas pessoas e ir a uma entrevista de emprego são motivos de desespero. 


Essas pessoas costumam evitar qualquer tipo de contato social e atividades simples como atender o telefone, pedir informações a um estranho e até comer em público se tornam impossíveis. Esse comportamento é característico de um distúrbio conhecido popularmente como fobia social, ou transtorno da ansiedade social.


A Fobia Social é um transtorno de ansiedade muito comum, afetando cerca de 3,5% a 16% da população geral. O transtorno se caracteriza pela extrema ansiedade diante de situações de convívio social ou em que a pessoa se sinta avaliada.


“A fobia social se diferencia da timidez comum pelo grau de intensidade da ansiedade gerada antes e durante a situação social e pelo grau de prejuízos que traz à vida da pessoa, com comprometimentos que alcançam a esfera profissional, escolar e social. Por esta razão, é também chamada de timidez patológica”, define o psicólogo Thiago de Almeida, especialista no tratamento das dificuldades do relacionamento.

 

De acordo com o psicólogo, a pessoa que sofre de fobia social apresenta dois tipos de sintomas em uma situação social temida, ansiedade e sintomas situacionais. Os sintomas de ansiedade podem incluir palpitações, falta de ar, tontura, sensação de desmaio, enrubescimento, suor e embaçamento da visão etc. Já os sintomas situacionais podem variar como por exemplo, tremer e não conseguir escrever, gaguejar, travar a garganta e não conseguir engolir, sentir vontade de ir ao banheiro, etc. “Estas reações produzem forte insegurança, levando a pessoa a duvidar de sua capacidade de conseguir desempenhar a função social envolvida na situação”, explica.


“Há um medo de se sentir embaraçado, inadequado e não se sair bem na situação. A dúvida e a incerteza produzem insegurança e ansiedade. Uma das consequências é a pessoa começar a evitar situações em que ela imagina que poderá passar mal, o que vai restringindo sua vida”.


O médico explica que a pessoa que sofre de fobia social está sempre se sentindo inferior ou humilhado, com a sensação de que está sendo constantemente testado. “É comum, por exemplo, a pessoa se imaginar sendo observada por "alguém crítico”. Este “outro crítico” pode derivar da “projeção”, muitas vezes não consciente, de uma figura crítica da história de vida da pessoa. Pode ocorrer também a projeção de autocríticas que a própria pessoa se faz e não assume”, explica.

 


Tratamento da Fobia social:

 

O especialista explica que a análise psicológica costuma demonstrar que a pessoa com fobia social tende a colocar muita importância na opinião dos outros. “É como se a pessoa estivesse descentrada, como se o centro de sua mente estivesse no olhar do outro e ela dependesse deste olhar do outro para ficar bem ou se sentir péssima. Há muita energia psicológica projetada neste olhar imaginário de fora. É necessário trazer a pessoa de volta, para o seu centro interno”, explica o psicólogo.


De acordo com Almeida, o tratamento psicológico visa ensinar técnicas de autogerenciamento ao paciente, a fim de que ele controle o grau de ansiedade na situação. “Este aprendizado diminui o impacto das reações de ansiedade, que minam o sentimento de segurança na situação”. 


O tratamento também ajuda o paciente a desenvolver o autocentramento, importante para a pessoa se sentir mais segura. “Neste processo utilizamos métodos de autogerenciamento como o Método dos Cinco Passos, Técnicas de Relaxamento, trabalhos oculares para desenvolver a atenção, autocentramento e presença, técnicas de manejo respiratório etc. Conforme a pessoa vai sendo capaz de regular sua ansiedade, aumenta seu sentimento de confiança”, explica.


Além disso, o especialista explica que é importante identificar e trabalhar com as distorções cognitivas que levam a pessoa a se sentir cada vez mais ansiosa. “Há uma série de pensamentos que tendem a ficar distorcidos e exagerados”.


“Quando a pessoa, por exemplo, imagina ser o centro da atenção (quando na verdade não é), imagina que estão olhando criticamente para ela (quando na verdade não estão), acha que os outros estão percebendo claramente seu estado interno (quando na realidade não estão), imagina que a ansiedade destruirá sua performance (quando poderia ter boa performance mesmo estando ansiosa) e prevê consequências catastróficas para a situação, exagerando os riscos do estado de ansiedade. Aprender a identificar e avaliar objetivamente estes pensamentos ajuda a pessoa a construir uma perspectiva mais clara e objetiva da situação, funcionando como um regulador da ansiedade”.

 

Durante o tratamento também é investigado as influências dos eventos e experiências de vida que podem ter contribuído para o desenvolvimento da fobia social. Como o sofrimento ocorre em situações sociais, seu desenvolvimento sofre direta influência das experiências anteriores de relacionamentos interpessoais e dos eventos que podem ter abalado a segurança da pessoa nos ambientes sociais. “Durante o tratamento podem emergir memórias de situações sociais constrangedoras que a pessoa não se lembrava mais. Uma análise destes processos permite uma compreensão individualizada do caso e é fundamental para a superação deste estado de ansiedade social intensa”.


O psicólogo explica que para a maioria dos casos de Fobia Social o tratamento psicológico especializado é suficiente. Por outro lado, alguns casos mais severos se beneficiam de um tratamento conjugado de atendimento psicológico e medicação.


Thiago de Almeida, psicólogo especialista no tratamento das dificuldades do relacionamento amoroso e autor de vários livros sobre o assunto.


 

 

 

 

 

 

 

 

Fontes: 


DSM IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais)

 

 



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