O que há de errado com a minha aparência, o que posso fazer para esconder o que tanto está incomodando e que torna vergonhoso o contato social? É comum esse questionamento na fase da adolescência diante de um turbilhão de mudanças hormonais, emocionais e físicas.
Você sabia que o exagero ao manipular a aparência física e o descontentamento com o visual pode ser uma doença? É clinicamente chamada de Dismorfia Corporal, atinge diversas pessoas em todo o mundo e já foi diagnosticada no astro Michael Jackson que desconfigurou o rosto em busca de uma “perfeição” que o fez perder a própria identidade física.
A psicóloga Anne Tarine explica que o transtorno é mental e leva o indivíduo a se olhar de forma crítica, preocupando-se com os possíveis defeitos em sua aparência física: “Como exemplo, pode-se citar alguém que acredita ter alguma cicatriz ou marca evidente no rosto. Com isso, começa a tentar esconder sua falha. Essa preocupação pode demandar de 3 a 8 horas por dia, fazendo com que sua vida em vários aspectos seja prejudicada”, alerta.
A especialista pontua que os indivíduos que sofrem de dismorfia corporal sentem angustia e ansiedade sobre o aspecto físico. Embora vivemos rodeados de dogmas estéticos e a busca constante pela beleza ditada pela publicidade a psicóloga ressalta que a pessoa com o transtorno é prejudicada em sua vida social.
“O indivíduo pode ter muitas perdas nos âmbitos do trabalho, social, familiar, entre outros, principalmente porque a ideia de que sua aparência é feia, sem atrativos e até deformada a incapacita para viver sua vida de forma adequada”, explica.
O diagnóstico da dismorfia corporal pode ser tardio, pois o comportamento é visto na maioria dos casos como vaidade excessiva e o portador não se identifica com a doença, logo não procura auxílio.
A atriz e cantora Miley Cyrus também confessa ter sofrido de dismorfia corporal em entrevista para a revista Marie Claire. A artista comenta sobre a pressão vivida em busca da perfeição estética e que as edições realizadas em suas fotos a transformava praticamente em outra pessoa e que isso afetava a sua autoestima.
A psicóloga acrescenta que é comum encontrar os portadores de dismorfia corporal em consultórios de cirurgiões plásticos, pois sentem a necessidade de mudar o que incomoda de forma definitiva: “O problema não se encontra na aparência e sim na percepção de sua autoimagem, fazendo com que mesmo após uma mudança cirúrgica a pessoa continue incomodada com outras partes do corpo”, adverte.
Tratamento
Dra. Anne recomenda para o transtorno o acompanhamento psicológico e a medicação. “A autoimagem desses indivíduos apresenta uma distorção muito grave, o que pode ser trabalhado em terapia, a fim de que novas percepções sejam construídas e, como consequência, possa apresentar melhora na autoestima”, indica. A médica ressalta sobre a importância de não ignorar os sinais e estar atento ao comportamento no dia a dia.
“É de grande importância que esses casos recebam atenção, pois além dos prejuízos cotidianos, como perder o emprego, abandonar os estudos e se isolar em casa, existe um alto índice de suicídio por não conseguirem lidar com sua aparência”, alerta.
Referências:
http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/476747/dismorfia-corporal-a-escravidao-da-estetica
Anne Tarine, Psicóloga clínica
Especialista em Neuropsicologia