MUITAS MULHERES GUARDAM A SENSAÇÃO DE QUE O PARTO HOSPITALAR NÃO FOI COMO SONHARAM
A maternidade sem dúvidas é um dos momentos mais especiais da vida da mulher que “deseja” ser mãe. Mas essa não é a realidade de milhares de mulheres, isso porque o parto não costuma ser decidido por elas ou, muitas mulheres sequer conseguem idealizar um tipo de parto ideal por não procurar referências.
De acordo com a pesquisa Armadilhas da Nova Era: Natureza e Maternidade no Ideário da Humanização do Parto, é ressaltada a recorrência com a qual é analisada de forma comparativa o parto no Ocidente e em outras sociedades, o que salienta as formas medicalizadas como “desnecessárias” e a superioridade de outras culturas, desta forma, o que se instaura é o que pode ser conhecido como “antropologia do parto”, em que alternativas são buscadas a fim de tornar o parto mais natural possível.
A professora de Ioga, escritora e idealizadora do método Amor se Aprende, Lidia Carmeli, relata que sua primeira experiência de gravidez foi aos vinte anos de idade e que desde a assistência no pré-natal não houve empatia com o médico e equipe. No nono mês de gestação, trocou de médico, mas ainda assim, o desejo pelo parto normal não foi atendido:
“Depois da cesariana, passei uma semana com muita dor nos pontos. Era uma menina jovem e me lembro com um pouco de pesar, porque eu não podia pegar meu filho no colo, sentia dores nos cortes, a cirurgia foi bem feita, o corte foi bem feito, é imperceptível hoje, mas eu tive experiências de parto melhores.”
No livro A Maternidade e o encontro com a própria sombra: o resgate do relacionamento entre mães e filhos, a autora e psicoterapeuta argentina Laura Gutman, destaca que embora cada vez mais se fale sobre preparação para o parto, é comum que as mulheres assumam a maternidade sem a preparação emocional necessária.
A escritora Lidia Carmeli conta que na segunda gestação desejava um parto normal e lhe diziam que não seria possível depois de uma cesárea, o que ela já sabia na época que não era verdade. A professora procurou por um hospital em que a criança pudesse ficar no quarto junto com a mãe, a filha nasceu, mas para ela, ainda não era o parto ideal: “Me deram injeção de anestesia peridural, que era desnecessária, e sofri a episiotomia, que também era desnecessária. Mas ainda assim, foi um parto melhor do que a cesariana, na minha opinião”.
A pesquisa O “corte por cima” e o “corte por baixo”: o abuso de cesáreas e episiotomias em São Paulo, enfatiza que a episiotomia é uma rotina na prática médica desde meados do século XX, baseada na crença de que facilita o nascimento da criança e de que preserva a genital feminina, mas já na década de 1980 já havia evidências científicas o bastante para abolir esta prática.
A episiotomia é um corte realizado entre o ânus e a vagina da mulher que em longo prazo pode prejudicar a sexualidade feminina, sem contar a sensação que muitas mulheres têm após passar pelo procedimento, de mutilação.
Só na quarta gestação, a escritora pôde enfim ter o parto que quis, em casa, cercada por um médico em quem confiava e pela família:
“Eu queria ser protagonista do meu parto. Foi um parto muito lindo, porque me senti segura, eu podia andar pela minha casa, estar junto com o marido e filhos. Fiquei durante a madrugada nessa espera e pela manhã, as contrações apertaram e meu bebê nasceu por volta das 5 horas.”
Depois da experiência, Lidia passou a trabalhar com gestantes. Ela dava aulas de Ioga em São Paulo para adultos e passou a trabalhar com gestantes e casais "grávidos". A Ioga direcionada à gestante ajuda na adequação das posturas que exercitam a abertura pélvica, assim como exercícios respiratórios são repassados para que ocorra facilitação no momento das contrações.
A escritora acredita que o parto domiciliar não é apenas o parto ideal, mas é o parto possível e perfeitamente natural. É como voltar a se conectar com a sabedoria do próprio corpo:
“É uma escolha e a gente pode se preparar para uma escolha natural, uma escolha consciente para a gente de fato construir um mundo melhor, de pessoas bem recebidas e que vão levantar essa bandeira do amor e da paz.”
E qualquer ato que contrarie o desejo da gestante, que lhe cause constrangimento, que viole os seus direitos, é considerado violência, o que é conhecido de alguns anos para cá como violência obstétrica. Toda mulher deve ter o direito ao próprio parto.
Lidia Carmeli – Fisioterapeuta, professora de Ioga, escritora e idealizadora do método Amor se Aprende, que exercita a sintonia com o amor que vive dentro de cada um. O método se utiliza de técnicas de Consciência Corporal e de Auto Conhecimento.
Site: lidiacarmeli.com.br
Fanpage: www.facebook.com/amorseaprende
Fontes
Congresso Internacional de Ciência do Início da Vida – Cinciv: vivalem.com.br/cinciv
Armadilhas da Nova Era: Natureza e Maternidade no Ideário da Humanização do Parto. Estudos Feministas. Realizado por: Carmen Susana Tornquist: periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2002000200016/8856.
GUTMAN, Laura. A Maternidade e o encontro com a própria sombra: o resgate do relacionamento entre mães e filhos. Tradução Luís Carlos Cabral. 7. ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2014.
DINIZ, CSG; CHACHAM, A. O “corte por cima” e o “corte por baixo”: o abuso de cesáreas e episiotomias em São Paulo. Questões de Saúde Reprodutiva. 2006; 1(1):80-91.