Hábitos modernos, assim como distúrbios emocionais excluem a nutrição essencial para o corpo
No cenário robotizado em que vivemos é comum encontrarmos soluções rápidas e práticas para diversas situações do cotidiano. O que esquecemos é de que o comportamento automático é um mal perigoso quando falamos de saúde, dos cuidados essenciais com o corpo que requer consciência plena. Usamos os alimentos como válvula de escape, distração e esquecemos que a alimentação possui o papel de nutrir, formar e equilibrar a mente e o corpo, a emoção e a razão.
Comemos dirigindo, em frente a TV, no computador, conversando e diante de outras inúmeras distrações. Comer é sim um momento de comunhão e bem-estar, uma situação que propicia a comunicação, a harmonia e o prazer, mas o que muitas vezes negligenciamos é que a alimentação é necessária para nutrir e fornecer o que é essencial. O pesquisador e especialista na área de Alimentação Viva, Dr. Líncoln Hashimoto, é também médico clínico e passou a enxergar no início dos seus estudos não a doença isolada, mas suas principais causas.
“Através da alimentação consciente aprendemos quando comer, o que comer, quando comer, qual o local adequado, qual a quantidade adequada. Tudo isso em busca do alcance de uma mente clara, equilibrada, alerta, elevada, além de melhorar a disposição”, completa.
O médico diz que um dos principais aspectos a serem avaliados no momento da alimentação é em qual contexto sentimos a fome, pois as causas são variadas e você pode substituir o alimento por outra opção. Comenta sobre o estudo realizado no livro “A cura da Diabetes” em que aponta 75% dos americanos com sintomas de desidratação e 35% confundia o sentimento da sede com a fome. Esclarece que essas situações são interpretadas no cérebro pelo hipotálamo, responsável por identificar informações como a saciedade, fome, sono e também a sede.
“É preciso refletir se realmente é fome, pode ser a necessidade de um copo de água, suco verde, algum nível de nutriente que não necessariamente seja uma refeição ou alimento sólido”, pontua.
Fome, vontade de comer ou problema emocional?
A relação com a comida pode ser associada com complicações emocionais. O momento em que estamos vivendo, a ansiedade e até mesmo a possibilidade de compulsão alimentar são fatores que não devem ser descartados. “Qual seria a causa da fome? É emocional? Teria alguma outra atividade que substituiria o alimento naquele momento? Então devemos primeiramente pensar nessa questão”, acrescenta.
O National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais), inclui algumas características comuns entre as pessoas que sofrem de compulsão alimentar:
- Comer mais rápido do que o recomendado
- Continuar comendo até sentir-se desconfortável
- Comer grandes quantidades de alimentos na ausência de fome
- Sentimentos de depressão, enjoo e culpa após o excesso de alimento ingerido
Vale lembrar que cometer exageros na alimentação de forma esporádica ou em determinados eventos não é sinal da presença do transtorno. O estudo avalia a pessoa com compulsão, geralmente sem o controle do que está comendo e nem da quantidade que ingere tornando esse comportamento um hábito. Ao notar sinais compulsivos procure a ajuda de um médico psicólogo.
Alimentação intuitiva
Assim como na vida, a intuição deve ser aprimorada para a relação com o alimento e a fome. O especialista em alimentação viva questiona os motivos reais que direcionam a alimentação de cada indivíduo, seja ela pelo sabor, a busca pelo prazer e se há consciência das consequências para o corpo e organismo. “A alimentação intuitiva irá direcionar as nossas escolhas diárias. É um trabalho de autoeducação que pode beneficiar a todos”, salienta.
O médico levanta a questão de até que ponto podemos relacionar as doenças que adquiramos ao longo do tempo com as questões genéticas, pois as chances dessa possibilidade são mínimas, já os hábitos e a rotina alimentar ocupa uma posição altamente considerável:
“As enfermidades genéticas e hereditárias possuem baixos índices, aproximadamente 12%. É preciso atentar-se aos 88% que é associada a variadas questões que vão favorecer o desenvolvimento das doenças", salienta.
É importante não repetir os hábitos prejudiciais inseridos pelos pais na infância, para mudar a forma de encarar a alimentação e tornar consciente o ato de nutrir o organismo, aconselha o especialista. “Através dos alimentos o ser humano tem uma forte ligação com a natureza. Quando optamos por opções industrializadas e não temos a consciência daquilo que estamos ingerindo é quebrada a conexão entre o ser e a natureza e estamos propensos à origem das doenças”, conclui.
Referências:
(NIDDK) - National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases: http://www.niddk.nih.gov/health-information/health-topics/weight-control/binge_eating/Pages/binge-eating-disorder.aspx
SEMAV - Semana da Alimentação Viva (congresso online)
Líncoln Hashimoto, Clínico Geral
Pesquisador na área da Alimentação Viva, Medicina Ayurvédica e Modulação Hormomal