A doença pode afetar as crianças e requer tratamento para evitar problemas mais graves futuramente
É comum associarmos na atualidade diversos problemas emocionais, tristeza ou mudanças bruscas de comportamento com o quadro depressivo. A depressão pode ser desencadeada de diversas formas, visto que um indivíduo depressivo não necessariamente é deprimido, triste ou antissocial. A depressão é uma doença grave e em muitos casos silenciosa, podendo afetar até mesmo as crianças. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que 20% da população infantil apresenta sintomas relacionados a depressão.
Pesquisa realizada pelo National Institute for Health and Care Excellence (NICE), Reino Unido, divulga que mais de 80 mil crianças na região foram diagnosticadas com a doença num período de um ano, entre as idades de 8 a 10 anos. A OMS ainda alerta que o transtorno depressivo é o principal fator prejudicial que interfere nas atividades entre jovens de 10 a 19 anos.
Existe uma série de dificuldades para detectar a doença, pois dificilmente as crianças conseguem obter o autoconhecimento para expressar e entender o que estão sentindo. Cabe aos pais perceberem as mudanças comportamentais repetidas, alterações bruscas de humor e outros comportamentos, como alerta a psicóloga Sheila Cirigola, especialista em neuropsicologia, “Crianças deprimidas não têm energia e entusiasmo, tornam-se tristes, se retiram do ambiente em que estão os amigos e os familiares e podem também se apresentar irritadas, mal-humoradas ansiosas, inquietas e com dificuldade para dormir. Podem ou não apresentar problemas na escola. Muitas vezes, perdem o interesse em atividades que antes gostavam”, explica.
A psicóloga ainda ressalta sobre o modo diferente que a doença pode atingir as crianças, nem sempre da mesma forma que afeta aos adultos. Ao notar qualquer mudança no comportamento da criança é fundamental procurar o auxílio de um especialista. Os pais ou mesmo o cuidador ou professores são as pessoas que podem identificar com mais facilidade as mudanças causadas pela depressão e facilitar a detecção clínica através da consulta e exames médicos.
A comunicação é considera a principal ferramenta para o tratamento da doença, explica a psicóloga, “ A depressão, em alguns casos, se instala porque a criança está sendo mal compreendida pelos adultos. Pode ser que elas nem precisem de antidepressivos, mas sim de alguém que esteja mais atento, observando e compartilhando suas dificuldades, a fim de tomar o cuidado necessário e adequado para aquele momento que a criança estiver atravessando”, esclarece.
Perceber os sinais e tentar amenizar com passeios, presentes ou oferecer doces não irá mudar o quadro. A especialista em neuropsicologia ainda salienta sobre o comportamento prejudicial dos pais ao não encarar a doença e tentar motivar a criança com estímulos que podem afetar a saúde física e emocional. “Essas estratégias pioram o quadro. Encher a criança de açúcar pode torná-la ainda mais irritada, devido aos picos de glicose e ainda por cima provocar obesidade infantil. A partir daí se instalam várias doenças ao invés de uma só”, alerta.
Tratamento para depressão infantil
Com o acompanhamento médico e a detecção da doença serão receitados os medicamentos para auxiliar e amenizar os sintomas da depressão. A ajuda dos pais torna-se essencial para evolução do quadro. “A medicação por si só não vai curar a doença a partir do consumo e fazer com que a criança volte a ser como era antes. A fase de crescimento e amadurecimentos faz com que ao passar dos meses, o quadro se modifique e a criança passe a lidar melhor com as dificuldades que outrora a estavam impactando”, aponta a psicóloga.
Estimular o convívio social de forma recreativa em atividades escolares, em grupo ou com a família são hábitos que ajudam a desencadear o bem-estar nas crianças que sofrem de depressão. Atividade física e brincadeiras são práticas saudáveis para a evolução do quadro. A ajuda dos pais e professores contribui para a recuperação contínua da criança. “A depressão infantil não pode e não deve ser desprezada. Ela precisa de tratamento. As consequências sociais e educacionais podem se prolongar muito, prejudicando o amadurecimento contínuo que deve ocorrer durante o período da infância”, orienta a psicóloga.
Referências:
http://abp.org.br/portal/clippingsis/exibClipping/?clipping=16817
http://eaulas.usp.br/portal/video.action?idItem=668
http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=339
http://drauziovarella.com.br/crianca-2/depressao-infantil-e-na-adolescencia/
Sheila Cirigola, Psicóloga
Especialista em Neuropsicologia
Intervenções em Situações de Emergência e Crise
Colaboradora do LINC - Laboratório Interdisciplinar de Neurociências Clínicas do Depto. de Psiquiatria e Psicologia Médica da Unifesp