Será que podemos dizer que há um padrão de beleza? Há alguns anos a moda era ser "cheinha" e a referência era a inesquecível Marilyn Monroe. E hoje a referência para muitas mulheres é o corpo magro, inspirado na linda Gisele Bündchen.
A beleza é singular... peculiar. O que é belo para um pode não ser belo para outro e, diante dessa realidade fica o questionamento: Por que esses padrões?
O preocupante é que muitas garotas querem ser magras e para isso colocam em risco a própria saúde. Trata-se da anorexia infantil.
Veja a reportagem. Entenda esse problema.
A psicóloga Cristiane Cruz traz importantes esclarecimentos sobre esse assunto e apresenta, inclusive, seu livro "O Cisne que não Comia", que está relacionado com essa busca por padrões de beleza na infância.
A busca constante pelo corpo esbelto e definido é algo comum nos dias atuais, principalmente entre crianças e jovens, que são facilmente influenciados pelos meios de comunicação.
Quem não está magro, sente-se excluído de um padrão imposto de beleza, o ideal rígido, fantasioso e difícil de alcançar. Mas, cabe aos pais orientar o filho e notar o comportamento em relação ao corpo e diante dos alimentos.
A possibilidade de transtornos alimentares como a anorexia é preocupante, principalmente entre adolescentes e até crianças, como explica a psicóloga Cristiane Cruz:
A criança pode começar a se achar gorda, esse é um sinal importante a ser observado. Se a criança realmente estiver gordinha, acima do peso, tem que ter cuidado com a alimentação, praticar exercícios físicos, esportes. Só que muitas vezes, a gente tem essa moda de magreza, e principalmente as meninas, elas vão começar a se achar gordas. Hoje está começando na faixa dos sete, oito anos isso. Então já começa a se achar gorda, aí fala que não quer comer porque tá gorda ou “ai eu não quero sobremesa porque eu já estou muito gorda”. Isso já é um indício de um transtorno alimentar no futuro.
Estabelecer a comunicação com a criança que sofre ou tem tendências à anorexia é fundamental para a detecção do quadro e tratamento.
Cristiane Cruz: E tem que tomar muito cuidado, os pais têm que estar atentos e não alimentar essa ideia de que não pode comer porque está gorda, né? É tentar entender o que está acontecendo.
A psicóloga Cristiane é também autora do livro infanto-juvenil O cisne que não comia. O conto fala da história da Ana, uma garça que não se alimentava para ficar esbelta como o cisne. Ana é também o nome fictício que as portadoras de anorexia usam para se comunicarem em comunidades das redes sociais. Elas trocam receitas e dicas para ficarem cada vez mais magras.
Cristiane Cruz: Eu trabalhei muito tempo com transtornos alimentares. Então eu convivi com muitas pacientes com transtorno alimentar, e um dia eu estava no Ibirapuera, e eu vi uma garça que parecia uma anoréxica, né? Porque a garça ela é muito magra, ela estava comendo um peixe e a gente via o peixe descendo pela garganta e aí eu tive a ideia. E tinham os cisnes também lá, que na comparação o cisne é considerada a ave mais bonita, mas ele é mais largo, ele é mais corpulento, né? Então surgiu a ideia.
E o conselho para os pais é procurar conhecer e compreender o universo da criança e do adolescente, − sem julgamentos.
Cristiane Cruz: Observar que tipo de problema essa criança está tendo. Quais são os sentimentos? O que ela está sentindo? Será que ela está tendo problemas com amizades? De aceitação social? Os pais sempre têm que estar atentos ao que está acontecendo na vida da criança. Esse transtorno alimentar vai ser reflexo de uma combinação de vários fatores. Questões sociais, hoje em dia existe uma pressão imensa para que as pessoas sejam magras. Suscetibilidade pessoal, já é demonstrado que têm pessoas que são mais suscetíveis e questões familiares.
As meninas principalmente, são vítimas da anorexia. Em alguns casos, partindo do comportamento da mãe.
Cristiane Cruz: Uma menina que a mãe está sempre fazendo regime, sempre fazendo tratamento, sempre se achando gorda, ela pode estar se achando gorda e quere imitar esse comportamento da mãe. Ela pode achar que é bonito fazer regime. Ela pode entender que comer doces é uma coisa que é extremamente prejudicial. Ela pode entender que não pode ser um pouquinho mais gordinha, que só é possível ser feliz se for magra.
O transtorno alimentar pode ser influenciado dentro de casa, através do comportamento extremo dos pais ao se tratar da alimentação. Principalmente se houver um exemplo dentro de casa.
Cristiane Cruz: A mãe quer ser muito magra, a mãe está sempre fazendo regime, ou os pais ou o pai. E se houver uma pressão para que a criança tome muito cuidado para não engordar, “não coma para não engordar”. Isso não quer dizer que é legal que as crianças sejam obesas. Não tem nada a ver, mas também não tem que ir para o outro extremo de achar que uma criança não pode comer doce porque senão vai engordar. É um equilíbrio, um meio termo.
Conversar, estabelecer diálogo com o filho é valioso para despertar situações. O amor e a compaixão dos pais são armas poderosas no combate à anorexia. Será que vale a pena sacrificar a vida, o corpo, em prol de um ideal de beleza? O que é um ideal de beleza? O que é a beleza, para você?
Não existe beleza em um corpo ausente de amor próprio. Por isso antes de tudo: Ame-se!